Sandra Pêra se declara a Gonzaguinha com o pulso vital que valoriza o álbum ‘Eu apenas queria que você soubesse’
A cantora Sandra Pêra interpreta 12 músicas de Gonzaguinha em álbum que traz Simone e Chico Chico entre os convidados Ana Alexandrino / Divulgação ♫ OPIN...

A cantora Sandra Pêra interpreta 12 músicas de Gonzaguinha em álbum que traz Simone e Chico Chico entre os convidados Ana Alexandrino / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Eu apenas queria que você soubesse Artista: Sandra Pêra Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ O álbum em que Sandra Pêra dá voz a 12 músicas de Gonzaguinha surpreende positivamente pela seleção do repertório, pela criatividade da produção musical – confiada a Amora Pêra (filha da união de Sandra com o Gonzaguinha) e a Paula Leal, ambas do grupo Chicas – e pela interpretação da artista. Em essência, o disco é declaração de amor de Sandra Pêra a Gonzaguinha, feita com o pulso vital que regeu a obra do compositor. Mãe e filha, Sandra e Amora unem vozes e afetos na canção-título Eu apenas queria que você soubesse (1981) em gravação aberta com áudio de entrevista de Gonzaguinha a uma emissora carioca de rádio. Cantora carioca revelada em 1976 no grupo As Frenéticas, sexteto que simbolizou desbunde feminino na era dos dancin’ days, Sandra Pêra também é atriz. Quem interpreta Ser, fazer e acontecer (1982) – canção pouco lembrada de Gonzaguinha – em tom teatral, com contornos de tango no arranjo, é tanto a cantora quanto a atriz. Lançado em 22 de agosto pela gravadora Biscoito Fino, o álbum Eu apenas queria que você soubesse ganha tração neste mês de setembro por se somar aos tributos aos 80 anos de nascimento de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (22 de setembro de 1945 – 29 de abril de 1991), grande compositor que se tornaria octogenário amanhã, segunda-feira, 22 de setembro. A homenagem fonográfica honra o compositor. Sandra Pêra jamais faz cover das 12 músicas, procurando sempre abordagens menos previsíveis, e nisso contou com a inventividade das produtoras. A intensidade do arranjo de Maravida (1981), por exemplo, se afina com a sede de viver que move a canção lançada por Maria Bethânia e revivida por Sandra em dueto com Chico Chico. Aberto com o samba Com a perna no mundo (1979), escrito por Gonzaguinha com versos autobiográficos como um recado endereçado a Dina (mãe de criação do artista, já falecida), o disco de Sandra Pêra traz à tona músicas nada óbvias, casos de Ocê i eu (canção desconhecida apresentada em 1993 na voz do autor em gravação incluída no álbum póstumo Cavaleiro solitário) e de Morro de saudade (1987), música lançada pelo autor no mesmo ano da abordagem tecnopop feita por Gal Costa (1945 – 2022) no controvertido álbum Lua de mel como o diabo gosta (1987). Com letra escrita por Gonzaguinha na linha “de homem para homem”, Ponto de interrogação (1980) ganha gravação em que Sandra Pêra evidencia os versos diretos sobre a necessidade de o homem se o preocupar com o prazer feminino na hora do sexo. Décadas antes de as rappers e funkeiras darem enquadradas nos machos egoístas, Gonzaguinha deu esse grito de alerta masculino. Já Recado (1978), última faixa a ser gravada, é valorizada pela presença de Simone, importante intérprete de músicas de Gonzaguinha, sobretudo de Sangrando (1980). Recado era composição até então inédita na voz de Simone. Não estava na seleção inicial de Sandra Pêra, mas entrou no disco porque foi a música escolhida pela Cigarra para o dueto. As presenças de Dhu Moraes e Regina Chaves – integrantes da formação original das Frenéticas – em A felicidade bate à sua porta (1973) têm valor também afetivo, já que foi com essa música que as Frenéticas debutaram no mercado fonográfico em single lançado em 1976 no clima de disco music. A gravação atual se desvia do trilho original pelo arranjo noise de tom roqueiro. Já Feliz (1983) é melodiosa e nostálgica canção que desliza macia, enternecida pelo toque proeminente de uma sanfona. Música apresentada no último álbum lançado pelo cantor em vida, Luizinho de Gonzagão Gonzaga Gonzaguinha (1990), Borboleta prateada alça voo com arranjo de vivaz e mutante pulsação rítmica que, ao longo dos mais de cinco minutos da faixa, evoca tanto um maracatu ou um baião quanto um galope e um dobrado das bandas das cidades pequenas. O arranjo valoriza música em si menos sedutora. Composição apresentada no já mencionado álbum póstumo Cavaleiro solitário (1993) e cantada por Sandra em tom exteriorizado, Coração bate no pulso do amor à vida, força motriz do cancioneiro de Gonzaguinha. Essa paixão pela vida impulsiona o álbum Eu apenas queria que você soubesse, declaração de amor eterno endereçada por Sandra Pêra ao imortal Gonzaguinha. Capa do álbum ‘Eu apenas queria que você soubesse’, de Sandra Pêra Ana Alexandrino